Artista em Quarentena

Artista em Quarentena: arte nos tempos do Covid-19

Parecia que aqueles dois primeiros meses de isolamento não iam acabar nunca. Era ruim de imaginar. Será que não vai ter palco, público, show, aglomeração? Até quando?

Até quando é difícil de responder, afinal até agora nem governo nem ninguém conseguiu controlar o tal do vírus.

Já tem uns meses que decidi migrar para o mundo online, não por vontade, mas por necessidade. Afinal ficar parada é que não vai me adiantar.

É triste não saber quando retorno aos palcos. Mas é muito pior saber que se voltassem os shows agora a gente promoveria um verdadeiro caos. Porque definitivamente a pandemia não acabou. Vou fazer show pra matar as pessoas de gripe?

Pois é, o que um vírus pode causar na humanidade. Esse contexto desnuda tantas contradições, fraquezas, fragilidades e despreparos que a gente fica paralisada. 

Enfim, agora o mundo é meu quarto. A vida é uma live. Tudo no computador. Na internet. Se ficar pensando nisso a gente enlouquece. Melhor deixar pra lá.

Fiz um quadro de quarentena, tipo um misto de telemensagens dos anos 1990 com a entregabilidade do fácil compartilhamento de links. 

É legal, as pessoas gostam de presentear os amigos, a família, as amadas com música. 

Mas teve a adaptação dessa nova linguagem, não musical mas de vídeo, Youtube, essas coisas modernas.

Maqueia.

Arruma cabelo.

Põe figurino.

Cenário.

Gravar.

Editar.

Vou ter que comprar outro celular.

Mas será que o dinheiro vai dar?

Pois é, falar de viver de arte no Brasil já era complexo antes do corona. Agora, então! Desculpa, não sou de falar palavrão, mas POXA!

Talvez as pessoas comecem a entender agora que não dá pra romantizar, nem o artista, nem a arte.

Sabe aquele papo: ai, tal pessoa realmente é artista porque ela faz arte por amor!

E, sim, trabalhamos também por amor. Porém a necessidade de comer e pagar contas coexiste em nosso cotidiano.

E pior do que romantizar a condição do artista é romantizar a própria arte.

Que coisa mais burguesa. Muito século 18. Cafona!

Imagina se no teatro as pessoas só fizessem teatrão. Consumissem teatrão! Ele tem também sua importância, claro. Mas se fosse só isso, seria um sinal de que nada teria mudado, e a arte não teria nem um tom transformador ou transgressor. Muito pouco. 

Na verdade, pra mim essas duas formas de romantizar, seja a vida do artista, seja a arte em si, são parte de um mesmo processo. 

Quem nunca ouviu falar que as músicas do tempo da Ditadura Militar eram melhores? Às vezes as pessoas que falam isso nem viveram a Ditadura de 1964, por isso acabam por romantizar um dos períodos mais cruéis e desumanos que vivemos no Brasil.

Saudosos tempos que não vivi. Caetano concorda comigo. 

Talvez, em termos de intensidade, e de colocar pra fora toda a dor sentida por um país inteiro, seja realmente uma período fértil para arte. Mas será que devemos nos apegar a isso?

Agora todo mundo está tendo essa oportunidade. Vivenciar o autoritarismo, a desigualdade social elevada a enésima potência. 

Novamente ela chegou: a Ditadura. Com nova roupagem, mas com um cheiro de mofo dos quartéis que faz enojar.

Ditadura e Pandemia. Onde a gente vai parar?

Será que a gente produz melhor em momentos como esse? Ou será que em momentos como esse a arte é consumida com mais qualidade? Ficam as questões…

Porque fato é que as pessoas precisam do acalanto da música, de uma boa leitura, de um bom filme. Nos contextos sombrios, precisam muito mais. 

Arte é essência. Cultura é direito. 

Resumindo, a gente merece conseguir viver de arte. Afinal, esse é um grande serviço prestado à humanidade.

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